Em The Outer Worlds 2, você joga como um agente da Earth Directorate. Um protagonista novo, elenco novo. A criação de personagem é bem completa. Dá para mexer em corpo, rosto, cicatriz, cor de pele, cabelo, até prótese mecânica de braço/pernas. Você escolhe também um passado e traços positivos e negativos. Isso muda diálogos logo no começo e já abre alguns caminhos diferentes nas primeiras missões. O jogo reconhece essas escolhas em conversas, em testes sociais e até em atalhos de gameplay (“ah, você já trabalhou com segurança corporativa? então sabe usar esse painel”). Mas nada que gere aquela conversa hiper exclusiva que só você vai ver. É mais um tempero de roleplay do que um “você desbloqueou um final secreto porque escolheu ser Professor”. Mas essas escolhas não me deram nenhuma vantagem absurda em combate e eu também não senti que eu fiquei fraco ou ferrado porque não escolhi o traço perfeito. Isso é bom para a imersão e para a conversa, mas não é aquele criador onde “se você não pegou Trait XYZ você estragou seu save para sempre”. O sistema de skills é peculiar. O jogo meio que obriga você a investir nas áreas de Engenharia, Hack e Lockpick. O jogo até tenta dar alternativa, tipo “força bruta” para abrir passagem, mas, sinceramente, isso aparece bem menos. A skill Observation, por outro lado, quase nunca me deu aquele impacto de “uau, eu mudei alguma coisa grande”. Ajuda a achar item escondido, marca ponto fraco do inimigo, te dá mais contexto ambiental… mas eu não senti um payoff que muda completamente a missão, nem achei item secreto absurdo que justificasse investir pesado nisso cedo. O level e os itens funcionam em um sistema estranho se você pegar um revólver no começo do jogo, ele é o mesmo que você vai encontrar no final do game. Os itens não têm level e o dano dos itens não escala com o passar do jogo. Então, para você dar mais dano, você precisa aumentar as skills (Gun, Meele) e adquirir perks para dar uma porcentagem de dano a mais baseado no dano base dos itens que não escalam. As armas têm slot para modificações e as mais especiais terão um mod especial que trará um efeito que não pode ser substituído e você não vai encontrar em lugar nenhum. Mas, geralmente, essa arma não tem um dano base absurdo, o que significa que meio que o que importa é o seu gosto sobre a arma (se é bonita, ou porque você gosta especificamente de shotgun, revólver, etc.) do que você querer ela pelos seus status. Um exemplo seria você colocar ponto na skill Gun, pega perk que aumenta crítico, e de repente sua pistola lá do começo do jogo começa a dar mais dano. Eu entenderia se fosse Força e eu usasse uma espada ou martelo, mas estamos falando de armas de fogo. Por que diabos meu personagem, por ficar mais habilidoso com armas de fogo, aumentaria o dano do meu revólver em porcentagem? É estranho, mas achei importante citar. Sobre conteúdo bônus / pacote premium / pré-venda: você ganha umas armas temáticas, faca, pistola, uniforme corporativo estilizado e até um pet drone. Se você está pensando em pagar a versão mais cara e jogar na dificuldade maior (hard), já te aviso que esses itens são bem inúteis. A faca da versão premium tem um dano base pequeno e, por isso, a skill que eu teria que aumentar muito, a skill de melee ou stealth, não faria com que eu consiga matar personagens mais fortes do que qualquer item que encontraria durante o jogo. Então, fica a sensação de por que diabos eu paguei, se meio que eu preciso fazer toda uma build em volta para funcionar. O prólogo é MUITO bem montado. As primeiras 1–2 horas passam a sensação de um jogo enorme e bem escrito, cheio de tensão política, escolhas de rota, checks de fala cedo. Só que logo depois começam a aparecer buracos na narrativa e na qualidade das conversas. Rola um acontecimento forte no começo que separa você de um membro da equipe. Anos depois, vocês se reencontram. Era para ser um reencontro com um pouco mais de emoção. Só que a conversa que rola é meio fria, quase sem peso, tipo “oi, tudo bem, vamos ali fazer uma missão”. Isso mata completamente o impacto da cena e faz parecer que o NPC não liga. É estranho num jogo que promete companheiros cheios de personalidade e drama interno. Reparei também que o jogo quer que você siga uma trilha meio pensada, mas, como as áreas são abertas, dá para fazer missões fora de ordem. Quando você faz isso, a história às vezes não acompanha. Já aconteceu diálogo agir como se eu não soubesse de um segredo que eu literalmente acabei de descobrir numa side quest ou personagem reagindo de forma fraca a algo gigante porque, tecnicamente, na “linha oficial” das missões principais, aquilo ainda não “aconteceu”. Isso tira o peso da narrativa. Eu também senti que, depois do começo, a história perde intensidade. O jogo começa forte, cheio de identidade, e depois entra num modo mais funcional, quase checklist de objetivos, em vez de continuar entregando drama pessoal e conflito interno entre facções e companions. E os companions, que teoricamente são o coração emocional do jogo, sofrem disso. Tem até seis membros de equipe recrutáveis, cada um com um papel de combate (tanque, cura, DPS, etc.) e um posicionamento ideológico/faccional. Eles falam entre si, discordam de você, comentam decisões… mas, às vezes, eles parecem minúsculos na cena. Graficamente, The Outer Worlds 2 roda em UE 5. Isso significa cenários lindos, iluminação bonita, superfícies muito bem detalhadas. Mas, infelizmente, também significa performance do jeito que a gente já espera: stutter, quedas de FPS e sensação de que a otimização podia ser bem melhor. Os NPCs humanos em geral são feios, com rosto sem carisma, aquela cara meio boneco plastificado ou estilização socialmente carregada demais para pouca profundidade de cena. Tive problemas técnicos sérios, como o jogo não conseguir salvar automaticamente e eu não conseguir substituir o último save, só criar um novo. Só que o jogo tem um limite de 100 saves e isso acaba fazendo eu ter que ir lá na pasta e deletar o save manualmente porque não dá para apagar por dentro da interface. O que mata é que, como o save é manual, tenho que ficar salvando na mão constantemente porque se eu morrer eu volto para o último save. Também encontrei alguns bugs de física/pathfinding, tipo personagem/NPC afundado no chão ou preso parcialmente dentro do cenário. Esses problemas não são algo que quebrou completamente a campanha, mas aconteceu o suficiente para tirar um pouco da seriedade em combate e para lembrar que o jogo ainda precisa de atualizações. No geral, The Outer Worlds 2 claramente tenta ser maior, mais cinematográfico e mais “produção grande” que o primeiro. Ele acerta muito forte no começo e tem momentos de humor ácido que ainda funcionam muito bem. Mas se você veio por consistência emocional, companions realmente reativos e dramáticos, progressão de loot interessante até o fim, polimento técnico e narrativa que acompanha sua liberdade de exploração sem se confundir, não é aqui que você vai encontrar. Estamos falando de R$ 299,00 na versão base e R$ 424,00 na versão premium. Isso é simplesmente caro demais para o pacote atual, considerando os problemas, companions que somem emocionalmente quando deveriam brilhar, bugs de save, NPC enfiado no chão e performance pesada. Se você amou o primeiro Outer Worlds e quer mais desse universo, pode comprar sem medo. Mas se você está só curioso, honestamente vale muito mais esperar uma promoção do que pagar o preço cheio. Esta vai ser provavelmente minha última review do ano, então desejo a você que está lendo um bom natal e um feliz ano novo, que o mercado de games nos traga experiências ainda melhores no ano de 2026.